Infância sem Diagnóstico: A Luta Silenciosa contra o Desconhecido - Doença Celíaca
- Paloma Trosoof
- 15 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de dez. de 2024

Nasci em 1982, uma bebê linda, grande e cabeluda, mas desde o início, meu corpo começou a demonstrar sinais de algo que, naquela época, ninguém sabia diagnosticar com precisão. As dificuldades começaram cedo: episódios constantes de prisão de ventre, supositórios, e visitas a diversos pediatras. Bolhinhas pelo corpo, alergias inexplicáveis, eram confundidas com simples reações, mas minha mãe, incansável, não parava de procurar respostas, tentando entender o que estava acontecendo comigo.
Logo, a asma se instalou, junto com uma intolerância ao leite. Meu organismo parecia ter uma relação estranha com a comida: amava água de coco, frutinhas e verdurinhas, mas rejeitava proteínas. Carne? Era algo que eu simplesmente cuspia, não importava o quanto minha mãe tentasse, desfiando em pedacinhos pequenos, na esperança de que eu não percebesse. Mas quem me conhece sabe: desde sempre, eu era atenta a cada detalhe e não havia como esconder. As carnes apareciam, e eu sabia que elas estavam lá.
Minha infância foi marcada por alergias a mofo, poeira e leite. Naquela época, os diagnósticos eram mais difíceis de serem feitos, e alergias eram tratadas como algo secundário, algo que, na visão de muitos, não deveria ser tão grave. No entanto, as dores na barriga eram constantes e insistentes. Lembro-me de noites intermináveis, com minha mãe ou minha avó, sempre prontas para me ajudar, massageando minha barriga para aliviar a dor.
Minha infância também era marcada por visitas frequentes ao pronto-socorro, especialmente por conta da asma, que surgia do nada, sem explicação. Dormir fora de casa era um desafio; os produtos perfumados, amaciantes e, principalmente, a naftalina, eram meus inimigos. Minha mãe, consciente de tudo que eu passava, criou um ambiente protegido e limpo, tentando minimizar os efeitos das alergias. Ela fez do lar um refúgio, onde eu pudesse respirar e me sentir um pouco mais confortável.
A prisão de ventre, por outro lado, foi piorando com o tempo. Cheguei a passar 12 horas no banheiro, com dores insuportáveis. A pele ressecada, sem vida, os cabelos opacos, tudo isso, mesmo com uma alimentação cuidadosamente controlada pela minha mãe, que sempre se preocupava com minha saúde. Mas, por mais que ela fizesse tudo certo, parecia que algo ainda faltava, e ninguém sabia o que era.
Naquela época, o que eu sentia não era compreendido, e os diagnósticos médicos não sabiam como me ajudar. A realidade é que, enquanto criança, eu já estava enfrentando um desconforto constante, mas sem saber exatamente o que estava por trás de tudo isso. E só muitos anos depois, com o diagnóstico da Doença Celíaca, finalmente encontrei a resposta para tanto sofrimento. Mas a jornada da minha infância, com todas essas limitações, me moldou e me preparou para a pessoa que sou hoje.
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